segunda-feira, 5 de março de 2012

Textos do Walter Benjamin _ Tradução e selecção do Professor José Gomes Pinto

(Texto que acompanha a apresentação final . Temos que gravar a voz para a apresenntação no blog - Catarina necessitamos mais uma vez da suas voz!)


Cidade e fragmento

Somente em aparência é a cidade homogenia. O seu nome assume, inclusive, um tom diferente nos diferentes lugares. Em parte alguma, a não ser em sonhos, é ainda possível experienciar o fenómeno do limite de maneira mais original do que nas cidades. Entender esse fenómeno significa saber onde passam aquelas linhas que servem de demarcação, ao longo do viaduto dos comboios, através das casas, por dentro do parque, à margem do rio; significa conhecer estas fronteiras, bem como os enclaves dos diferentes territórios. Como limiar, a fronteira atravessa as ruas; um novo sector inicia-se como que num passo no vazio, como que colocados num nível mais profundo e que nem sequer tínhamos visto.
Walter Benjamin, O livro das passagens, C 3, 3.

Fragmento

O sonhador cujo olhar estremecido cai sobre o fragmento que agarra em sua mão, transforma-se num alegorista.
Walter Benjamin, O livros das passagens, J 53, 3

Fotografia e cidade

A câmara torna-se cada vez mais pequena, cada vez mais pronta a fixar imagens fugidias e secretas cujo choque faz parar no observador os mecanismos associativos. É aí que deve entrar a legenda escrita, que inclui a fotografia no âmbito da literarização de todas as condições de vida, e sem a qual toda a construção fotográfica está condenada a permanecer num limbo impreciso. Mas não será cada canto das nossas cidades um local do crime? Não será função do fotógrafo –sucessor dos áugures e dos arúspices– revelar a culpa nas suas fotografias e apontar o dedo aos culpados? «O analfabeto do futuro», disse alguém, «será aquele que não saber ler as fotografias, e não o literato».

Walter Benjamin, Pequena história da fotografia.

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