terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Espaço Lixo por Catarina Farmhouse

O texto espaço-lixo do livro três textos sobre a cidade, de Rem Koolhaas, que enunciei hoje no debate de grupo, aborda o tema da globalização das cidades e da criação de lugares comuns, como é o exemplo dado pelo autor, dos aeroportos e centros comerciais. Acima de tudo espaços públicos, de dimensões extraordinariamente grandes e sem qualquer caracterização, como refere Koolhaas, "em breve poderemos fazer qualquer coisa em qualquer lugar".
A frase que mais me marcou em todo o texto, sintetiza todo o contexto do ensaio "construímos mais que todas as gerações anteriores juntas, mas de certo modo não nos registamos nas mesmas escalas. Nós não deixamos pirâmides."
Os espaços hoje criados são o reflexo de uma resposta à globalização e a uma economia de consumo, que passou a ser o veículo principal do arquitecto, que também ele condicionado a dar uma resposta através do desenho limita-se a valorizar a funcionalidade do espaço para uma resposta ao consumo e não ao espaço habitável. Tal como é explicado por Koolhaas no livro Nova York delirante (1978), o elevador foi uma peça fundamental para vencer o obstáculo da construção na vertical, também o ar condicionado foi igualmente fundamental para vencer o obstáculo da construção na horizontal, passando os espaços a poderem ser totalmente encerrados e obterem comprimentos extraordinários, sem qualquer ventilação natural. Mas igualmente outros elementos passaram a condicionar o objecto arquitectónico, como é o caso das escadas e tapetes rolantes, que vencem a verticalidade e a horizontalidade, permitindo o dimensionamento dos espaços a limites anteriormente inaceitáveis no que concerne ao conforto e bem-estar.
O texto, altamente crítico, incide essencialmente num ponto fundamental, onde estão os conceitos e os tratados de arquitectura? Onde se perderam as teorias dos grandes pensadores da arquitectura? Qual é no seculo XXI a escala humana?
A arquitectura hoje projecta-se para dar respostas a necessidades ligadas à economia de consumo e deixou cair por terra todos os conceitos até aqui teorizados, passou a ser uma arquitectura modelar e amovível como resposta à globalização, na sua melhor forma de capitalismo, revestida pela aparência visual, levando a uma arquitectura de espectáculo.
O ensaio coloca em causa o papel do arquitecto, provavelmente chegamos ao ponto em que qualquer pessoa pode fazer arquitectura, ou melhor, projectar espaços. A resposta que um arquitecto tinha para as premissas do habitável, passou a ter outro conceito e propósitos que não assentam na base das teorizações da arquitectura. Na fase da industrialização, surgiu para o debate o conceito do fabrico em série, o conceito actual de módulos também ele permite que a arquitectura se torne num puzzle, facilmente construível por não arquitectos.
E a cidade? Onde fica a identidade da cidade num estado de direito? Qual o propósito de existir planeamento urbano quando são criadas bolhas que condicionam o conceito de urbanismo?
No essencial a preocupação central consiste em saber qual o futuro da cidade e se estas utopias são a cidade do futuro, assentes numa globalização capitalista, geradora de individualismos numa sociedade que se quer multicultural.
É certo que a globalização conduz a um determinado tipo de aculturação/penetração intercultural no âmbito nacional e quando está na mesa a discussão do tema sustentabilidade, a aculturação contraria todos os princípios fundamentais do que é considerado sustentável, e, neste ponto o arquitecto como actor principal, deve ter um papel político interveniente de forma a não permitir que o espaço lixo não se torne também num não lugar.

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